Por que nos tornamos médicos?
O que nos faz escolher esta profissão?
Em que momento dentro de nós decidimos ser médicos?
Há toda uma mística de conhecimento e poder que envolve esta escolha, e isso nos faria sentirmos superiores?
Ou será que a nossa compaixão e dedicação à humanidade é tão grande que o nosso desejo de servir nos leva para este caminho?
Rolamos entre dor e sofrimento, transitamos entre sangue, vísceras secreções, excreções, necroses e odores fétidos e isso não é com certeza por vaidade ou presunção.
Conhecemos e vivenciamos o limite entre a vida e a morte, que pode acontecer através de uma simples prescrição: Choque anafilático!!!
Somos sonhadores otimistas quando tratamos com a esperança e a certeza que podemos melhorar ou até mesmo curar o sofrimento daqueles que nos procuram ou somos sádicos e cruéis, quando submetemos os que sofrem a condições de padecimento desumano para tentarmos “salvar”uma vida que sabemos não ter mais chance. Será que nós médicos somos esquizofrênicos ?
Há muito a medicina deixou de lado a mística, e cada vez mais se aprofunda na ciência. Mas ao longo dos anos aprendemos que todo o nosso saber não vale de nada se não tivermos a capacidade de transmitir confiança, amor e esperança àqueles que nos entregam suas vidas como crianças fragilizadas e assustadas pelo sofrimento. Sabemos que um dia apesar de todo o nosso saber, estaremos sentados do outro lado da mesa com essas mesmas dores, porque não passamos também de seres humanos.
Nós médicos somos pombos correio que voamos com um ramo de oliva no bico, enfrentando céus tempestuosos ou azuis radiantes para levarmos uma mensagem de esperança, mesmo quando ela está presa por um tênue fio que se romperá com a brisa da morte.
Não decidimos ser médicos, nascemos médicos, como nascem os pintores, os poetas e os músicos, e passamos a vida transformando céus nebulosos em dias de sol, como os pintores lágrimas em sorrisos, como os poetas e gemidos em cantos, como os músicos.
Seguiremos assim até o fim e em paz!
Por: Luzia Helena Bernardo, em 19 de novembro de 2010-11-22
Nenhum comentário:
Postar um comentário